Novas rotinas na nova normalidade
Temas da Longevidade
Das consequências da pandemia a mudança da vida quotidiana foi provavelmente uma das que mais marcou as nossas vidas. Mudou-nos as rotinas mais banais, os hábitos mais corriqueiros e obrigou-nos a valorizar aquilo que tínhamos como adquirido, e que pela perda percebemos agora a sua importância. A falta obriga a repensar o que nos é importante, a compreender porque valores regemos a nossa vida e a desvalorizar o supérfluo que tanto prezávamos. Leva-nos para a defesa do essencial na vida.
Refazer novas rotinas é um desafio que permite criarmos um quotidiano com mais sentido, mais sentido face à descoberta de novas prioridades pessoais e de contribuição para o bem comum. As rotinas são muito importantes com a progressão da idade porque organizam a vida diária em função das nossas necessidades e prazeres. Dão-nos conforto e satisfação, sem querer necessariamente dizer acomodação. Sabe bem aquele café de manhã com a leitura daquele jornal, como sabem bem os hábitos que criamos, onde o simples cheiro a maresia ou alfazema nos dá satisfação, como o toque, o cheiro e a voz dos que nos são familiares. Estes pequenos nadas preenchem, sem o notarmos, a nossa vida e incorporam a nossa identidade, ajudam-nos a aceitar contrariedades e reforçam a nossa resiliência.
As rotinas são tanto mais importantes quanto as nossas capacidades cognitivas vão decrescendo. Constituem a rede de referências de cada um e vão-se mantendo, mesmo quando perdemos a memória ou há interferências no nosso pensamento. Um dos objetivos da organização de rotinas é a nossa saúde, pelo que estruturar rotinas saudáveis pode ser da maior importância para a nossa qualidade de vida, desde a alimentação ao sono, ao exercício físico e mental. Se estas práticas acontecerem de forma rotineira não são imposições difíceis e por isso mesmo a reconstrução de rotinas não só é desejável, como deve ser feita de forma criteriosa. Neste aspecto o apoio a reestruturar rotinas pode ser muito vantajoso. Esse apoio define-se com a própria pessoa e/ou com aqueles que os ajudam, desde os familiares, a prestadores de cuidados ou até terapeutas.
As rotinas não devem ser imposições desagradáveis, correndo o risco de não se organizarem como práticas quotidianas e serem esquecidas ou substituídas por outras com menos benefício. Sabemos que a memória de um gesto ou ação pode perdurar mesmo que outro tipo de memória se dissipe. Se esse gesto ou ação estiver ligado a estímulos agradáveis e se relacionar com fatores desencadeantes, com mais facilidade vai perdurar. A razoabilidade da sua proposta e compreensão da mesma também é fundamental. Assim, a própria escolha e implementação de novas rotinas também exige uma estratégia. Estratégia do próprio ou de quem o ajude a implementar o novo dia a dia.
O apoio de um profissional de saúde na elaboração de um quadro de rotinas pode ser vantajoso, mas nunca se deve sujeitar uma pessoa a um esquema saudável, devem-se adaptar sugestões saudáveis a cada pessoa. Em nome da saúde não podemos transformar a vida de alguém em mapa de regras a cumprir. Lutar pela vida e bem estar de uma pessoa e querer impor um mundo de regras que nos desligam da vida é um paradoxo. Mas, ainda pior que isso é transformar a vida num caminho de sujeição a pequenos ditadores que arrasam a dignidade da pessoa em nome do seu bem.
O ritmo que queremos impor à nossa vida também pertence à forma como vamos escolher rotinas e regulá-las. A consciência do momento que estamos a viver, das nossas capacidades e dificuldades, do que esperamos da vida, das perspectivas de futuro, vão condicionar o que queremos do nosso quotidiano.
Reestruturar o nosso dia a dia com mais razão e satisfação é uma conquista pessoal.
“Mudar de rotinas e repensar a vida não lhe parece uma aventura estimulante?”